Por Rafael Mendes
É tarde da noite, eu não consigo dormir o que é uma coisa normal,
mas dessa vez tem algo martelando na minha cabeça e que venho pensando há
alguns meses, me afligindo a algum tempo é o futuro da ESPN e com a saída de
Paulo Vinicius Coelho do seu quadro de profissionais, parece óbvio que deixou
de ser uma paranoia minha para “ai meu deus esse canal que eu gostava tanto tá
acabando”.
Mas e dai? É só TV, pode dizer você.
Eu me importo, a ESPN foi por um longo período de tempo, o único
meio em que o futebol era levado a sério de uma forma bizarra, com
implementação de estatísticas, de falar da parte da tática do jogo, de
jornalismo sério e com credibilidade, sendo realista nos comentários.
Era por volta de 2001, foi a primeira vez que minha família instalou
TV a cabo em casa, o que foi uma festa
para mim, que como típico filho único, passava o dia inteiro em frente a TV. No
primeiro dia que tive ESPN, realmente me desapontei, não passava nada naquele
canal. O que eu não conseguia entender porque via se falando da emissora em
filmes desgraçados de comédia (provavelmente envolvendo Adam Sandler mais do
que o recomendável) que uma criança da minha faixa etária assistia (ou não).
Eram programas de debates o dia inteiro, em cenários feitos de papelão com
cores aleatórias. Eventos? Me lembro ter visto a semi-final da Champions League
nesse dia entre Bayern e Real Madrid e só, com 11 anos eu odiava futebol
europeu, achava chato, não tinha brasileiros, aquela história toda... E eu
esperava ver jogos do campeonato brasileiro naquele canal novo. Não, nada.
Bem, mesmo assim dividi meu tempo vendo aquela porcaria, porque
era a única coisa 24/7 que falava de esportes, com Cartoon Network e Nickelodeon.
Um dia eu me lembro de ter colocado num programa aleatório da
ESPN a tarde e apareceu esse cara que usava cavanhaque e era tipo um “geek” de
futebol, algo que eu nem sabia que existia apesar de meu pai viver me acusando
disso. Gostei do cara (mesmo achando que ele era corintiano), ele falava as
coisas com segurança, dava as estatísticas mais imbecis do mundo futebolístico
e dizia também da parte tática das equipes. Chamavam ele de PVC, nome que pega
né. Ele aparecia pouco, mas quando ele estava ali falando eu sempre parava para
ver o que ele dizia.
Meu pai tirou a TV a cabo de casa por causa de uma das
loucuras aleatórias da cabeça dele (que não tenho vergonha nenhuma de expor pro
leitor desse blog: 1- Ele só assistia a Globo e estava pouco se fodendo pro que
eu gostava. 2- Ele achava um absurdo a
empresa cobrar 5 reais pela revistinha que trazia a programação junto; isso é
real.) e só em 2005 esse bem estar de classe média voltou ao meu lar. A ESPN só
transmitia os europeus, todos que importavam. E o PVC agora sem cavanhaque,
aparecia todos os dias ao lado de Palomino e Trajano no Bate-Bola, o clássico
com fundo tosco laranja.
Eu assistia praticamente tudo no canal, Linha de Passe, Futebol
no Mundo, Sportscenter, mandava e-mail (cheguei a ganhar kit), a emissora agora
tinha outros caras legais também: Mauro Cezar (que no começo era tímido e tinha
muito toc), Calçade (que veio de um programa que ao mesmo tempo, era um dos
melhores e piores de todos os tempos: Debate Bola, que pretendo abordar outro
dia), Flávio Gomes, Paulo Andrade, Antero... e para ser honesto acho que foi
durante aquele período de 2005 a 2006, vendo a ESPN que tive certeza que queria
ser jornalista.
Para ser sincero o PVC nunca foi o meu comentarista
favorito, eu sempre achei ele meio frio, mas não dá para negar que ele é um dos
caras que mais influenciou o jornalismo esportivo nos últimos anos e foi ao
lado de Trajano, o maior símbolo dos canais ESPN (André Plihal também, mas ele
não fica tanto tempo no ar como os outros). Ele foi um dos primeiros a dar essa
importância maior as estatísticas, para a história do jogo (e não apenas por
ego e demonstrar conhecimento inútil e sim para traçar paralelos pertinentes,
né Milton Neves rs.), ao lado tático do jogo e não fez como o resto das
comentaristas na época e REALMENTE ASSISTIA os campeonatos europeus e diria que
até de certa forma, junto com o canal, foram um dos responsáveis pela
popularização no Brasil. (são muitos responsáveis, o que demandariam um texto
para explicar.) Além disso, ele contribuiu para abrir espaço na televisão para
comentaristas que pensavam futebol de uma diferente dos dinossauros que você vê
até hoje na TV aberta.
Eu tenho quase certeza que nunca vai existir um canal de
esportes tão bom quanto a ESPN foi de 2005 a 2011. Isso sem transmitir nenhuma
competição nacional. O nível do comentário sempre foi o mais elevado e a
liberdade para opinar era visivelmente maior do que em outros canais.
Mas isso passou a mudar, de quando o Trajano deixou de ser
diretor e o canal tinha no seu DNA 100% jornalismo e pouco entretenimento. (O
lema era “informação é o nosso esporte”) Hoje, por mudanças de mercado e de
pensamento dos diretores, a emissora buscou incorporar essa parte do entretenimento,
mas não de uma forma assumida, até para não chocar os espectadores, que são
fieis e idolatram a marca ESPN no Brasil pelo o que ela representa.
Não vem dando certo, são muitos programas de formato
semelhante com essa roupagem disfarçada, a barra com twitters passando sem parar de um jeito meio escroto, alguns comentaristas
ruins que buscam mais a piada, a coisa viral, do que a análise ponderada. Um
bom exemplo disso é o Bate-Bola 2 que agora tem dois apresentadores e três
comentaristas, muita gente falando e ao mesmo tempo falando pouco o que importa
para quem liga a TV.
E no meio dessa transição perde os direitos de campeonatos
como a Bundesliga e a Champions League (e metade do Espanhol, do Inglês...),
ironicamente na era do #ESPNTEM.
Agora essa crise de identidade é ainda maior com a saída do
PVC. O Fox Sports apesar de muita gente ter um pé atrás, por ter muitos
comentaristas da “velha geração”, tenta ser um canal de entretenimento assumido,
tem formatos de programas diferentes (alguns interessantes até, por incrível que
pareça a Fox parece mais com a ESPN americana do que a própria versão
brasileira) e tem investido muito, basta ver os seus estúdios.
Realmente, me chateia o fim da ESPN que eu conheci e me
ajudou a amar mais ainda o futebol, mas aquela emissora de 2005-2011, já havia
acabado há algum tempo e a saída do PVC só expõe mais isso. A competição com o
crescimento de outros canais a cabo só acelerou esse processo, nos resta
desejar boa sorte a todos.
Se o Calçade e o Paulo Andrade sair...fecha as portas!
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